É possível implementar excelentes metodologias ativas sem tecnologia. Seus alunos podem ter experiências transformadoras sem tecnologia. Sim, isso é verdade, e talvez por isso você ainda não se sente convencido(a) sobre o uso de tecnologia no ensino-aprendizagem. Talvez na pandemia sim, por necessidade. Talvez porque algum parâmetro curricular envolva um tipo de tecnologia ou mídia. Talvez porque os alunos estão acostumados com tecnologia, mas mesmo assim parece que eles não são verdadeiramente letrados em informação digital. Se tudo isso é fato, como saber se vale a pena usar tecnologia? Aqui vão 5 perguntas para você se fazer e decidir:
1. Qual é o perfil de aprendiz que eu quero formar?
No passado o ensino era mais focado em conteúdo a ser transmitido, sendo que o aluno apenas recebia esse conteúdo. Hoje focamos mais em habilidades. E mais do que isso, hoje se pensa mais sobre o tipo de aprendiz que queremos formar, não importa qual idade. Hoje existe uma consciência da necessidade de sermos eternos aprendizes. Isso porque o mundo está mudando exponencialmente, e a tecnologia faz parte dessa mudança. Os aprendizes de hoje precisam ser consumidores conscientes de informação digital. E mais do que isso, hoje os aprendizes têm a possibilidade de serem criadores de conteúdo, compartilhando com um número de pessoas antes nunca imaginado. Isso faz diferença no perfil de aprendiz que queremos formar, porque a possibilidade de impacto social é muito maior hoje em dia.
Portanto para responder essa pergunta sobre o perfil do aluno, pense nas oportunidades que você pode oferecer para que esse aluno(a) consiga lidar da maneira mais positiva possível com a tecnologia, para si mesmo(a) e para a comunidade. Este é um momento de ser um educador(a) mais do que professor(a). E se houver dúvidas sobre a parte técnica, muito provavelmente algum aluno saberá resolver.
2. Quanto controle é necessário para garantir aprendizagem?
Quanto os seus alunos conseguem aprender sozinhos? Essa pergunta serve para pensar quais informações e conceitos o professor(a) precisar ensinar para que os alunos consigam continuar aprendendo sozinhos, pelo menos por um tempo. Quanto os alunos conseguem pesquisar sozinhos? Quanto os alunos conseguem aprender ou reforçar através de simulações, testes online com feedback de acertos, tutoriais criados pelos colegas, tutoriais ou conteúdo criado pelo professor? Não é tão diferente de atividades ou exercícios, mas cria mais oportunidades de aprendizagem autônoma.
As respostas dependem do contexto de professor e alunos. Mas vale a pena pensar a respeito e liberar esse controle aos poucos. A vantagem desse tempo em que os alunos aprendem de forma autônoma na sala de aula, é a liberdade para o professor ajudar grupos estratégicos de alunos. Mas algumas ressalvas devem ser feitas nessa liberação de controle. Se a aprendizagem autônoma é requisitada antes da aula (sala invertida), então é fundamental desenhar uma atividade presencial que utilize esse conhecimento de forma ativa. Quando feita presencialmente, também é necessário trazer o grupo de volta para compartilhar aprendizagens e estabelecer próximos passos.
Lembre sempre que para liberar controle é necessário ensinar explicitamente como aprender de forma autônoma. E depois liberar o controle aos poucos, apontando para os alunos os ganhos e os desafios.
3. Quando vale a pena estender a aprendizagem para além do presencial?
Quando se pensa em estender aprendizagem para além do presencial logo vem a idéia de “tarefa de casa”. A diferença quando se pensa em tecnologia, é que existe uma possibilidade muito maior de continuar aprendendo, só que de forma colaborativa. A pergunta aqui é: a aprendizagem de qual tópico pode ser beneficiada com uma extensão para além da sala de aula? Lembrando que aprendizagem de conteúdos complexos e análises de idéias contraditórias, por exemplo, são melhor construídas em comunidade. Já muitas habilidades precisam de uma prática individual, apesar de se beneficiarem também de uma exposição coletiva.
Outro elemento importante da aprendizagem que continua fora da sala de aula é a possibilidade de feedback. Você pode pedir aos próprios alunos para dar feedback para seus colegas através de um Google Doc por exemplo, ou outras ferramentas tecnológicas. O aluno não precisa mais estar sozinho em sua “tarefa de casa”. Feedback é um dos mais impactantes fatores na aprendizagem e não precisa ser feito somente pelo professor(a). Se existem critérios claros de qualidade, o próprio aluno(a) pode fazer, assim como seus colegas. Isso facilita muito o trabalho do professor(a) , que não precisa ser o centro dessa prática em todas as situações.
Lembre sempre que a tecnologia facilita uma “extensão” do clima de sala de aula. Então é fundamental conectar as atividades presenciais e online, como um contínuo.
4. Qual o tamanho do mundo que eu posso trazer para meu ensino?
Toda instituição de ensino pode promover viagens, visitas a locais de interesse curricular ou trazer especialistas para conversar com os alunos. Essas experiências são fantásticas e não existe substituto para a tridimensionalidade, os cheiros, os sons, o movimento. Dito isso, a pergunta é: quão longe você pode levar seus alunos, em quantos lugares, ou com que facilidade?
A tecnologia trouxe a possibilidade de acesso global, ampliando possibilidades. Qual o potencial de aprendizagem para toda a vida que um aluno pode ter, se aprender como procurar pessoas, instituições, formar uma rede? Todos nós, estando em uma rede, já aprendemos com alguém a quem não teríamos acesso facilmente. Mas qual o potencial de explicitamente ensinar seus alunos a procurar uma rede de interesse na sua área de ensino, para que eles mesmos continuem sozinhos?
Outro aspecto desse acesso global é a possibilidade de criação de conteúdo, de compartilhar conhecimento. Isso vai bem além de likes e comentários em postagens. Criar conteúdo para ajudar na própria aprendizagem (processo cognitivo) e na aprendizagem de outras pessoas, faz parte de ser responsável pelo desenvolvimento da comunidade. Qual o potencial de oferecer oportunidades a seus alunos para que eles sejam responsáveis pela disseminação crítica de sua aprendizagem? Quais questionamentos seus alunos podem levar à comunidade e quais respostas eles podem colher? Como isso pode enriquecer a discussão na sua aula?
5. Para qual propósito eu posso juntar analógico e o digital?
Em um mesmo projeto, você pode dar voz e escolha aos alunos, permitindo o uso de materiais concretos ou tecnologias digitais. Eles podem criar maquetes, posters, estórias em quadrinhos desenhadas à mão, ou criar um vídeo no Youtube, gravar com Camstudio, entre outras opções. O potencial da tecnologia para compartilhar nossa aprendizagem também abraça o analógico, portanto seus alunos podem tirar fotos da maquete, ou gravar um video explicando o poster, e muito mais. Digitalização é sempre possível. Mais do que isso, é uma documentação da aprendizagem.
Documentar e organizar o resultado ou processo de aprendizagem é uma forma poderosa de gerar reflexão. Isso pode se transformar em um Portfolio digital, ou pode ser publicado para impactar a comunidade. O professor(a) em si não precisa ter toneladas de conhecimento tecnológico para fazer tudo isso. Posso garantir que em uma sala de aula existem vários alunos que conhecem tecnologias diferentes e estão aptos a ensinar a parte técnica. Mas o professor(a) sempre pode aprender e ter uma ajudinha de um departamento de tecnologia, que pode publicar dicas de como usar determinadas ferramentas tecnológicas, deixando os alunos se virar sozinhos.
O propósito de documentar o analógico junto com o digital é portanto levar toda a riqueza gerada em uma sala de aula para fora dela, gerando impacto, feedback, discussão ou apenas melhorando a autoestima. Vale a pena tentar!