A capacitação de professores focou nas metodologias ativas … mas e os alunos ?
Vamos relembrar rapidamente o que são metodologias ativas: na verdade são estratégias de ensino que promovem o protagonismo do aluno, ou seja, promovem maior autonomia e maior participação do aluno no própria processo de aprendizagem. Muito se fala sobre metodologias ativas de ensino-aprendizagem e muita capacitação de professores é proposta com este foco. A pergunta que fica é a seguinte: depois que os professores aprenderam sobre e experimentaram essas estratégias para uma metodologia ativa, como ficou a aprendizagem dos alunos na prática da sala de aula? Os alunos aprenderam o conteúdo e habilidades com maior profundidade do que no ensino tradicional? Os alunos desenvolveram habilidades socioemocionais ?
Vamos avaliar dois “tipos” de “metodologia ativa” nos exemplos abaixo. Primeiro veremos um “NÃO” exemplo, ou seja, uma “metodologia ativa” aplicada em sala de aula sem resultar em engajamento cognitivo e afetivo eficientes. Depois veremos um exemplo positivo, no qual a metodologia ativa gerou uma aprendizagem focada e aprofundada (ou seja, um ganho de aprendizagem em relação ao ensino tradicional):
Aprendizagem Baseada em Projetos – PBL
Neste exemplo de aprendizagem por projetos, os alunos deveriam construir um modelo 3D de casa energeticamente eficiente. Neste “NÃO” exemplo, a aluna provavelmente ficou sobrecarregada com tantos conceitos e passos no projeto que só focou no resultado final, ou seja, uma casa que ela talvez não tenha entendido muito bem como verificar se foi eficiente ou não, ou o que significam os conceitos na prática.
No exemplo positivo de um PBL, a aluna foi capaz de seguir o objetivo de aprendizagem durante todas as etapas do projeto sem se perder, sendo capaz de articular com confiança seu processo de aprendizagem e o resultado final com mais qualidade.
Sala de Aula Invertida
A aplicação da estratégia de Salas de Aula Invertidas muitas vezes gera um “NÃO” exemplo como o ilustrado ao lado. Quando os alunos não sabem exatamente onde focar ao se deparar com textos complexos ou uma miríade de materiais, podem acabar “desistindo” ou mesmo não se sentindo engajados o suficiente para explorar, tomar notas e elaborar perguntas.
No exemplo positivo de Sala de Aula Invertida, o aluno sabe o que é importante no material de estudo ou pesquisa em casa, e sabe também que sua participação na atividade em sala de aula será requisitada e sua contribuição importante ( e porquê …).
Qual é o diferencial para o sucesso de uma metodologia ativa ?
Mesmo que a instituição já tenha escrito um currículo bem mastigado e detalhado, e a capacitação se encarregue de focar na metodologia, fica a pergunta: e como ficam os alunos na sala de aula ? eles sabem com clareza quais são os conteúdos e habilidades envolvidos na aprendizagem que deve ser “ativa” da sua parte? Por esse motivo é fundamental capacitar professores para escrever objetivos de aprendizagem em linguagem acessível aos seus alunos (a partir do currículo), e também gerar os critérios de sucesso com exemplos do que significa ter sucesso nessa empreitada de aprendizagem ativa.
Parece muita coisa? Na verdade, no momento em que professor(a) articula o objetivo de aprendizagem para os alunos, o processo de aprendizagem ativa será muito mais produtivo e a aprendizagem mais aprofundada. E como diz John Hattie: “se você professor tem uma compreensão clara do que é o sucesso nesta aprendizagem, existe uma chance maior de você se livrar do que não importa, existe uma chance maior de você identificar o sucesso e principalmente, você estará mais inclinado(a) a contar para os alunos logo no início como é esse sucesso …” (John Hattie, “Learning Intentions & Success Criteria”, Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=dvzeou_u2hM).
Então qual o papel do planejamento na aplicação de uma metodologia ativa ?
O planejamento permite mapear para os alunos qual deve ser a sua trajetória de aprendizagem. Com os critérios de sucesso fica mais fácil e mais claro definir quais serão as atividades e como elas se interconectam. A linguagem do professor(a) também fica mais clara para os alunos durante o processo.
Portanto, esse planejamento dá um foco não apenas para a auto-regulação do aluno como também dá um foco para o professor. O professor(a) que tem essa clareza consegue orientar seus alunos com muito mais eficiência, oferecendo o feedback necessário para que o aluno(a) não se perca em seu processo de aprendizagem, e almeje a competência no objetivo traçado.
Experimente capacitar seus professores para ter essa clareza. Você vai ver muita discussão entre os professores da mesma área sobre o que significa sucesso para um grupo de alunos e o que se pode esperar deles. A metodologia ativa na prática da sala de aula nunca mais será a mesma, ou melhor, será eficiente no propósito a que se dispõe: o protagonismo dos alunos.
NOTA: Objetivos e critérios de sucesso também orientam a pesquisa / investigação autônoma dos alunos. Não são prescritivos, apenas indicativos de processo e qualidade. Tudo o que foi descrito neste artigo é baseado em pesquisas educacionais.
Referências
CHAPPUIS, Jan. Seven Strategies of Assessment for Learning. 2nd. ed. Pearson, 2014.
CHAPPUIS, Jan; STIGGINS, Rick. Classroom Assessment for Student Learning: Using It Right – Doing It Well. 3rd. ed. [S. l.]: Pearson, 2019.
HATTIE, John; ZIERER, Klaus. 10 princípios para a aprendizagem visível: Educar para o sucesso. Penso, 2019.
WILIAM, Dylan. Embedded Formative Assessment: Strategies for Classroom Assessment that Drives Student Engagement and Learning. 2nd. ed. Solution Tree, 2017.