Como planejar aulas? Por onde começar ? Qual a melhor abordagem? Quanta informação colocar no meu PowerPoint ? Estas são perguntas comuns respondidas por pesquisas que indicam o processo mais eficaz: começar pelo final. Este tipo de planejamento é conhecido como ”backwards design”, ou “planejamento invertido”, apresentado por Wiggins & McTighe em seu livro “Understanding by Design”(1998). Depois deles, muitos ajudaram a elaborar esta idéia de planejamento invertido.
Mas do que se trata afinal essa “inversão”do planejamento? Trata-se de começar pelo objetivo de aprendizagem que queremos alcançar. Ou em outras palavras, trata-se de planejar com foco na aprendizagem que queremos ver na avaliação final (ou somativa). E porque esta é uma abordagem eficaz em termos de aprendizagem? Porque força uma clareza sobre a aprendizagem que se quer alcançar. Parece simples, mas requer um pouco de prática e reflexão.
Tradicionalmente, o planejamento do ensino foca em grandes tópicos e atividades: “vou ensinar sobre materiais condutores e isolantes térmicos”, “vou ensinar o livro de Machado de Assis”, “vou ensinar geografia através da Copa do Mundo”, “vou ensinar resolução de equações de segunda grau”, e por aí vai. Essa abordagem tende a gerar uma grande quantidade de conteúdo sem oferecer clareza aos alunos do que é esperado em sua aprendizagem. É uma abordagem mais “natural” porque o professor(a) segue o fluxo do seu próprio conhecimento. Porém não é natural ou eficiente para os alunos.
Criando um objetivo de aprendizagem:
Criar um objetivo de aprendizagem como primeiro passo no planejamento gera o foco no resultado final que desejamos. Um objetivo de aprendizagem não é uma atividade ou um tópico, mas sim uma habilidade que queremos ver em nossos alunos. E a habilidade nada mais é do que a resposta para a pergunta: o que os alunos precisam “saber fazer” com o conteúdo ? E o conteúdo por sua vez precisa ser priorizado para tal finalidade. Para quem quiser entender esta idéia, pode ler o meu artigo “Aprendizagem BEM_SUCEDIDA requer PRIORIZAÇÃO de CONTEÚDO”.
A melhor forma de criar um objetivo de aprendizagem é de forma colaborativa, com professores da mesma matéria. Isto porque a troca de idéias aprimora o resultado e favorece a aderência aos parâmetros curriculares da instituição. A partir disso, o professor(a) individual pode adaptar o objetivo de aprendizagem e planejamento à realidade da sua sala de aula e preferências pessoais. No entanto, professores individuais podem certamente criar o seu próprio objetivo de aprendizagem e fazer o seu próprio planejamento.
Elaborando um mapa para o sucesso:
Ao definir o objetivo de aprendizagem, precisamos pensar qual é a “cara” do sucesso em alcançar este objetivo. Ou seja, como podemos avaliar se o aluno(a) atingiu este objetivo? A resposta à esta pergunta deve gerar critérios de sucesso, que eu gosto de chamar de um mapa para o sucesso dos alunos. Esse mapa para o sucesso nada mais é do que a sequência de aprendizagem que iremos planejar, incluindo aulas, atividades e avaliações.
Para elaborar este mapa para o sucesso é preciso considerar o nível de sofisticação cognitiva demandado pelo objetivo de aprendizagem, para depois pensar quais habilidades são necessárias para se alcançar este objetivo. É como criar mini objetivos de aprendizagem para chegar ao objetivo final. No caso do exemplo acima, demonstrar “experimentalmente” “para produzir argumentos sobre a matemática como ferramenta de compreender e atuar no mundo”, requer muito mais do que uma aprendizagem superficial ou resolução de problemas com base em uma fórmula.
Sendo assim, o exemplo acima requer uma capacidade de TESTAR o o Teorema de Pitágoras em exemplo de triângulos retângulos. Poderíamos apenas entregar exemplos prontos aos alunos, mas como o “para quê” do nosso objetivo requer uma capacidade de argumentação e atuação no mundo real, os alunos irão eles mesmos IDENTIFICAR os exemplos no seu cotidiano. Como desejamos uma compreensão aprofundada para permitir aos alunos “argumentar” sobre Pitágoras, queremos que eles sejam capazes de EXPLICAR a demonstração do teorema. Finalmente, adicionamos a habilidade de DEBATER a validade do Teorema em diversos exemplos, não apenas como forma de solidificar e aprofundar a aprendizagem, mas também para permitir aos alunos a experiência concreta de uma argumentação matemática, presente no “para quê” do nosso objetivo.
Agora sim, criamos as atividades:
Tradicionalmente, o planejamento começaria por aqui. Mas ao criar um objetivo de aprendizagem e um mapa para o sucesso claros para professor e alunos, agora podemos planejar atividades que irão fazer sentido como processo formativo.
As atividades decorrem diretamente das habilidades que queremos desenvolver nos alunos, passo a passo. É necessário apenas acrescentar alguns detalhes de como a atividade irá funcionar como : pesquisa individual ou em grupo, colaboração, ensino entre pares, estratégias de debate, etc. As atividades exemplificam portanto as “estratégias de ensino” mais apropriadas para alcançar as habilidades em cada etapa do mapa para o sucesso.
E as avaliações já estarão definidas:
Quando definimos as habilidades que queremos ver em cada passo do nosso mapa de sucesso, já estamos definindo as avaliações formativas. Novamente será preciso apenas definir detalhes sobre documentação desta aprendizagem e formato do feedback. A avaliação somativa poderá em muitos casos ser uma compilação do melhor resultado nestes passos formativos, ou uma nova avaliação onde o aluno(a) demonstra todas as habilidades de uma vez só. Tudo depende do tipo de objetivo e das estratégias de aprendizagem ao longo do caminho.