Feedback como forma de ensino nas metodologias ativas
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OLÁ! EU SOU A SILVANA

Consultoria, Mentoria e Capacitação de Professores

Trago uma experiência de mais de 20 anos formando professores para melhoria da aprendizagem através de metodologias ativas com base em pesquisas. 

PhD e Mestre em Educação pelo King’s College, Universidade de Londres, trabalhei com integração de tecnologia no ensino e coaching de ensino-aprendizagem.

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FEEDBACK “EFICAZ” como forma de ENSINAR nas metodologias ativas

Se na metodologia ativa o(a) professor(a) precisa dar menos aulas expositivas e  promover mais autonomia para os estudantes, para onde vai o ensino? Se é preciso ensinar menos, como os estudantes irão aprender? Em uma metodologia ativa que se preze, uma boa parte do ensino acontece na forma de feedback. Mas não é “qualquer” feedback, como veremos nesta newsletter.

O feedback eficaz entra na categoria de “ensino personalizado” para indivíduos e para “grupos estratégicos” com necessidades semelhantes. Fala-se muito sobre ensino personalizado mas não se fala muito sobre feedback como ensino personalizado. Quando bem feito, o feedback responde às necessidades do estudante no momento em que aparecem. Por isso a aprendizagem é de fato “ativa”, já que o cérebro do estudante está no processo de lidar com uma nova informação e precisa identificar o seu próximo passo. De acordo com a pesquisa de John Hattie, que analisou inúmeras outras pesquisas em uma metanálise, o feedback representa um do maiores  impactos na aprendizagem.

Para “ensinar” através de feedback, o(a) professor(a) precisa ter muita clareza sobre o objetivo de aprendizagem e os passos para que o estudante consiga alcançar este objetivo com sucesso. Desta forma o feedback se torna de fato uma orientação sobre onde o estudante está e o que fazer para chegar no objetivo final. 

O feedback se transforma em um diálogo com os estudantes e pode ser individual, em pequenos grupos estratégicos ou com todo o grupo caso necessário. Assim, o(a) professor(a) ensina diretamente para o cérebro dos estudantes, que está tentando dar sentido ao conhecimento que está sendo transmitido. Isso muda o foco do ensinar para o aprender.

Se você quiser saber mais sobre este tipo de clareza no objetivo para ajudar no feedback, veja meu livro CLAREZA DO PROFESSOR, anunciado no home page deste site.

FEEDBACK EFICAZ É UM FEEDBACK DESCRITIVO

Todo feedback é um feedback eficaz? Todo feedback favorece aprendizagem ativa? O que haveria então de diferente em um feedback descritivo?

O feedback descritivo foca em um único critério de qualidade de cada vez, o que favorece a ação do estudante para melhorar. E quando o feedback aponta o que já foi feito corretamente para em seguida indicar o que precisa ser feito para melhorar, o estudante tem uma melhor noção do próximo passo.

Muito feedback ao mesmo tempo sobre todos os “erros” tende a ser confuso para o estudante, quando não desanimador.  A arte de ser educador é saber com clareza qual é o objetivo de aprendizagem e onde o estudante está neste percurso, para poder oferecer um feedback eficaz.

Ao oferecer feedback descritivo, devemos nos esforçar para ajudar o estudante a pensar por si mesmo(a) e não dar uma resposta ou dizer “isto está errado”. Precisamos pensar que o estudante está em um processo de aprendizagem e o que “está errado” é apenas uma tentativa. Podemos, por exemplo, oferecer como feedback uma pergunta relacionada a um critério de qualidade previamente discutido: “O que você observa no exemplo de qualidade discutido na aula? O que você nota no seu trabalho que pode ser melhorado?”. 

Quando temos um objetivo de aprendizagem claro, com critérios e exemplos do que significa ter sucesso, fica muito mais fácil oferecer este tipo de feedback e convidar o estudante a pensar de forma autônoma. O feedback se torna muitas vezes um lembrete e uma chamada a olhar novamente o que foi ensinado e o que é um exemplo de sucesso.

O feedback descritivo funciona porque possui três características fundamentais, duas delas já mencionadas acima. Primeiro, este tipo de feedback é “específico” porque foca em um critério de sucesso de cada vez. Segundo, este feedback é “útil” porque orienta os próximos passos na aprendizagem (mas para que tenha realmente esta utilidade, é preciso oferecer oportunidades para que os estudantes utilizem de fato o feedback para melhorar o seu trabalho e sua aprendizagem). E por fim, o feedback descritivo precisa ser “gentil”, o que vai além do “bom trabalho” ou “você não está fazendo o seu melhor”. 

O FEEDBACK EFICAZ FOCA NA APRENDIZAGEM, NÃO NO INDIVÍDUO

Descuidar das palavras e oferecer julgamento, omitir o que o aluno(a) já conseguiu alcançar (mesmo que pouco), entregar feedback junto com uma nota (baixa). Estas são situações em que o aluno(a) pode ficar com raiva do feedback ou de si mesmo(a), afetando negativamente a sua motivação para aprender. Não é culpa do professor(a). Todos nós sabemos quanta pressão os professores podem sofrer para entregar conteúdo e cumprir inúmeras tarefas administrativas. Só que isso acaba refletindo no aluno e na aprendizagem.

É preciso reflexão, treinamento, e muito cuidado para não oferecer julgamento como forma de feedback, principalmente com alunos “difíceis”: “O seu trabalho está incompleto; todos acabaram menos você; você não seguiu as instruções…”, e por aí vai. Quem nunca … não é mesmo? Porém estes são os alunos que provavelmente mais precisam de um feedback eficaz e motivador da aprendizagem. 

Outra prática comum é marcar ( em vermelho) TODOS os erros em um trabalho. O aluno(a) desanima. Notas (baixas) junto com comentários têm um efeito semelhante na motivação para aprender, segundo pesquisas. “Mas quem tem tempo para mais do que isso?!” – é uma afirmação comum. O que fazer então?

Nos dias de hoje sabemos com muito mais confiança e apoio em pesquisas, que o aprender depende de menos “ensino” e mais feedback efetivo. Portanto, cortar no tempo de “aula” e ir aos poucos investindo em feedback eficaz – ou feedback descritivo. Essa transição requer prática. Principalmente para escolher as palavras evitando julgamento e oferecendo comentários positivos no lugar. Para isso é necessário experimentar, olhar com atenção o que o aluno(a)  já fez de correto em direção ao objetivo de aprendizagem e oferecer essa observação positiva ao aluno(a). É muito importante entender que a aprendizagem só acontece A PARTIR do ponto onde o aluno(a) efetivamente está no seu processo de aprender. E o aluno(a) precisa dessa confirmação / afirmação.

FEEDBACK EFICAZ É UM FEEDBACK “COMPREENDIDO”

Comentários que dão trabalho para fazer mas não são lidos, ou o aluno(a) não segue o que foi sugerido ou nem refaz o que foi corrigido. Repetição dos mesmos erros na avaliação seguinte, ou pouca melhoria. Quem já não passou por isso ? Pesquisas indicam a necessidade de focar o feedback em um objetivo de aprendizagem claro e específico, indicando ao aluno(a) onde ele(a) está no caminho para este objetivo e o que fazer para chegar lá. Caso contrário, acabamos gerando confusão e dispersão de foco no que poderia ser produtivo.

É necessário portanto facilitar a compreensão do feedback de forma que faça sentido em uma progressão de aprendizagem ( note que o feedback pode ser escrito ou oral em uma conversa com o aluno).

Exemplo :

Os alunos estão aprendendo a desenvolver um texto argumentativo claro e coerente, portanto eles precisam saber de antemão qual é a progressão da aprendizagem:

Eu consigo:

  • Escrever uma introdução com uma tese clara sobre o que será discutido.
  • Escrever parágrafos explicando um aspecto do argumento com base em evidências.
  • Escrever parágrafos com argumentos contrários à tese inicial que são refutados com base em evidências.
  • Escrever uma conclusão que resume o argumento e suporta a tese inicial.

Dentro dessa progressão, um feedback claro e específico será assim:

ONDE VOCÊ ESTÁ NA PROGRESSÃO DE APRENDIZAGEM: 

“Você escreveu uma tese clara e interessante que estimula o leitor a conhecer o seu argumento.

“Os seus parágrafos argumentativos expõem todos os aspectos apresentados na tese”

ONDE VOCÊ PRECISA CHEGAR:

“As evidências apresentadas precisam convencer o leitor…”

COMO VOCÊ PODE CHEGAR LÁ?

“Como você pode organizar as evidências que já coletou para criar uma argumento mais convincente? Quais evidências você pode coletar para fortalecer o seu argumento? Como você pode coletar estas evidências? “

FEEDBACK EFICAZ ORIENTA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Quando o aluno(a) compreende onde está na progressão de aprendizagem em direção ao objetivo final, então ele(a) é capaz de determinar os seus próximos passos. Esse é um feedback eficaz, segundo inúmeras pesquisas. Para que isto seja possível, o professor(a) precisa planejar suas aulas e atividades segundo um “mapa para o sucesso” no “objetivo de aprendizagem” esperado. Com base neste planejamento, que é compartilhado com os alunos, é possível oferecer um feedback específico que indica o caminho a seguir. Planejar e tornar visível o planejamento é essencial, e facilita enormemente o trabalho de feedback. Os alunos tornam-se aprendizes mais autônomos e capazes de ajudar seus colegas.

O feedback deve portanto incluir um comentário positivo sobre o que o aluno(a) já alcançou e depois um comentário ou perguntas sobre qual seria o próximo passo. O feedback deve também guiar os próximos passos do professor(a), ajustando o foco nos pontos de dificuldade. Isso pode ser feito com uma mini-aula para toda a classe ou para grupos “estratégicos”.

O IMPACTO DO FEEDBACK EFICAZ NO(A) PROFESSOR(A)

O ensino que gera aprendizagem (bem-sucedida) envolve escutar o que a nossa fala de professor(a) produziu no cérebro dos estudantes. Isso porque uma coisa é ensinar, e outra é aprender. O feedback eficaz representa portanto uma “reação” à escuta ativa. 

Como professores(as), precisamos desenvolver uma curiosidade sobre a aprendizagem que acontece no cérebro do estudante, ou uma curiosidade. sobre o impacto do nosso ensino. Mais do que ensinar, precisamos pausar para avaliar nosso impacto e agir de acordo, ajustando nosso ensino.

O feedback é um caminho de duas mãos, como bem aponta John Hattie em seu livro “10 Princípios para uma Aprendizagem Visível”.  Oferecemos feedback aos estudantes e também recebemos feedback dos estudantes ao ouvir o que eles(as) têm a dizer. Assim o ensino se transforma em um diálogo e deixa de ser o monólogo tradicional.

A aprendizagem tem que ser o foco do ensino e os estudantes precisam conseguir “enxergar” a sua própria aprendizagem. Em outras palavras, os estudantes precisam enxergar onde estão, para onde vão, e como chegar no objetivo final. O feedback eficaz tem o poder de apontar para estes três pontos.

Tradicionalmente, fazemos avaliações e “corrigimos a prova” no quadro, oferecendo as respostas corretas. Nesta abordagem, o estudante pode ter uma vaga noção do que “errou”, mas talvez não entenda com clareza o que já aprendeu e o que exatamente precisa aprender – e como – para chegar ao resultado que o professor(a) mostrou no quadro. O feedback eficaz aponta para o estudante o que ele(a) já aprendeu e aplicou corretamente e “relembra” o que falta para atingir o objetivo. Eu digo “relembrar” porque, no início de uma unidade de estudo, deveríamos compartilhar com os estudantes qual é o objetivo de aprendizagem, junto com critérios e exemplos do que significa ter sucesso neste objetivo. Assim o feedback se torna uma conversa com base em algo concreto que é discutido com os estudantes ao longo de todo o processo de aprendizagem.

Um dos aspectos mais poderosos do feedback é o fato de estar baseado em um diagnóstico das dificuldades do estudante, e portanto ser fonte de informação para o(a) professor(a). Enquanto o(a) professor(a) dá uma aula expositiva, ele(a) não sabe o que acontece na cabeça dos estudantes. Mas ao fazer pequenas avaliações formativas e ouvir o que os estudantes têm a dizer, o(a) professor(a) está melhor equipado(a) para ensinar de forma eficaz.

Quando entendemos onde os estudantes estão no seu processo de aprendizagem, conseguimos ajustar o nosso ensino para atender esse momento. Este ajuste pode ser feito com toda a classe, explicando melhor algum ponto nebuloso, oferecendo outras atividades para desenvolver uma habilidade mais desafiadora, etc. O ajuste pode ser feito com grupos estratégicos, onde juntamos os estudantes com dificuldades semelhantes.  E também pode ser feito individualmente, ao oferecermos orientação e desafios apropriados a certos estudantes. Para isso, o(a) professor(a) precisa sair da sua posição na frente da sala de aula (presencial ou online). 

E mais do que isso: como educadores precisamos entender que os ajustes no ensino são feitos não apenas no momento, ou de uma aula para outra, mas também no planejamento para os próximos ciclos. Se não temos tempo de planejar alguma outra atividade para adaptar o ensino, ou preparar material hoje, podemos fazer isso depois. A ideia de constante melhoria deveria ser uma marca do ensino sempre, e não pular para novas ideias esperando uma bala de prata.

E os alunos, podem oferecer feedback aos seus colegas e assim liberar o(a) professor(a) para dar atenção à quem mais precisa? Essa abordagem é comumente vista como uma temeridade. E de fato, feedback precisa ser primeiro treinado pelo professor(a) e depois ensinado aos alunos. Quando o professor(a) oferece um feedback descritivo, específico e útil, os alunos aprendem o seu significado e o seu uso. Portanto, feedback não é uma ferramenta apenas do professor(a). Ela é também uma ferramenta de autoavaliação e de avaliação entre pares. 

Porque ainda queremos centralizar todo o feedback no professor(a)? Dado que inúmeras pesquisas já indicaram o poder do feedback eficaz no ganho de aprendizagem, seria uma sobrecarga muito grande se fosse apenas uma prerrogativa do professor(a). Para que os alunos consigam se autoavaliar e avaliar os colegas, é preciso primeiro “planejar” uma progressão de aprendizagem em direção à um objetivo claro para os alunos. A partir desse planejamento, fica muito mais fácil ensinar feedback e depois delegar uma boa parte desse trabalho aos alunos. Isso porque eles estarão operando dentro de parâmetros de aprendizagem que você determinou com clareza, compartilhou e discutiu. Planejar para o feedback é um trabalho que não dá tanto trabalho assim e traz resultados cada vez melhores ao longo do tempo.

EXEMPLO DE FEEDBACK DESCRITIVO

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