Eu convido vocês a pensarem em “estratégia” no lugar de “metodologia”. Porque? A ideia de “estratégia” oferece maior flexibilidade e uma compreensão mais clara das diferentes abordagens que temos à nossa disposição. Quando pensamos em “metodologia”, há uma tendência a seguir uma “receita” fixa do começo ao fim. Já quando pensamos em “estratégia”, ganhamos maior controle sobre o processo de ensino-aprendizagem, permitindo uma adaptação mais ágil ao nosso contexto e necessidades específicas.
Então as metodologias ativas são na verdade estratégias de ensino-aprendizagem? Exatamente. Isso porque é possível combinar várias delas, em diferentes situações, de diferentes formas. Não existe uma receita pronta que se adapte às necessidades e estilo de um(a) professor(a), à realidade de uma instituição, e às necessidades dos estudantes. Por isso precisamos pensar em “estratégias” como uma caixa de ferramentas à nossa disposição, para experimentar e utilizar conforme as nossas necessidades e ritmo.
Mas não é mais difícil ter que escolher entre várias estratégias? Não é mais fácil seguir uma receita fixa, como uma “metodologia”? Na verdade é mais fácil ter flexibilidade, porque a flexibilidade nos dá maior controle sobre o ensino-aprendizagem. Nada pior do que precisar implementar uma “metodologia” sem entender muito bem o porquê e para quê de todos os seus passos, e sem conseguir visualizar uma forma de se adequar ao contexto de cada sala de aula.
Por isso, quando eu falo em criarmos nossa caixa de ferramentas com diferentes estratégias, estou incluindo as clássicas “metodologias ativas” e tantas outras estratégias de aprendizagem ativa. Por exemplo:
- Rotação por estações
- Sala de aula invertida
- Gamificação
- Ensino híbrido
- Aprendizagem por projetos/problemas
- Rotinas de pensamento: como mapas mentais, vire-se e compartilhe, etc.
- Aprendizagem colaborativa: como leitura em jigsaw, ou sala de aula “quebra cabeça”.
- Aprendizagem entre pares: como “verde, amarelo, vermelho”, estudante como criador de conteúdo, feedback entre pares, etc.
- “Ask three then me” (pergunte a três depois a mim)
- Etc, etc
As opções de estratégias são inúmeras. Por isso é importante entender os princípios fundamentais que regem a escolha e a implementação de uma estratégia, para obter impacto real na aprendizagem. Neste artigo você vai entender as 5 perguntas fundamentais que devemos nos fazer quando escolhemos e implementamos uma estratégia de ensino para aprendizagem ativa. Acredito que não existe uma estratégia ideal, mas sim um contexto ideal para implementar cada estratégia de forma eficaz.
1) O que é ESSENCIAL para o estudante aprender?
Estratégias de ensino funcionam com muito mais eficácia se forem implementadas com foco no que é essencial aprender. Isso é particularmente importante em metodologias ativas que demandam um engajamento cognitivo e afetivo dos estudantes. Por isso, essa é a primeira e mais importante pergunta a se fazer. Nem sempre podemos responder imediatamente esta pergunta e podemos levar um tempo para deixar o nosso ensino mais focado. Mas só o fato de fazermos esta pergunta e tentarmos explicar aos estudantes o que é essencial aprender, já melhora a eficácia de uma estratégia de ensino.
A melhor estratégia de ensino para o seu momento é aquela que combina as necessidades dos estudantes com o seu interesse. Vamos supor que você e/ou a sua instituição quer implementar uma estratégia de ensino híbrido como rotação por estações de trabalho. Ao mesmo tempo, você sabe que seus estudantes precisam desenvolver maior responsabilidade pela própria aprendizagem, e por isso uma rotação por estações pode sem benéfica. Mas aí vem a pergunta: rotação por estações focadas em quê? Em qual conteúdo? Em qual tipo de atividade? O que seria mais eficaz para a aprendizagem?
Quando nos perguntamos o que é essencial aprender, conseguimos focar o ensino e a aprendizagem em conteúdos prioritários, e conseguimos determinar o que os estudantes precisam SABER FAZER com estes conteúdos: ou seja, qual habilidade precisam desenvolver. Ter clareza sobre uma habilidade essencial que afeta a vida e o trabalho dos estudantes, ajuda a determinar atividades mais eficazes na rotação por estações. E não apenas isso. Ter clareza sobre uma habilidade essencial ajuda a explicar aos estudantes o que vale a pena aprender e porque as atividades das estações são relevantes para o seu processo de aprender.
O desenvolvimento de maior autonomia e responsabilidade pela própria aprendizagem só acontece quando os estudantes entendem e se apropriam do que é essencial aprender.
2) Qual é p RESULTADO de aprendizagem que você espera do estudante?
Quando escolhemos uma estratégia de ensino estamos pensando com clareza qual deve ser o resultado de aprendizagem esperado? Se não tivermos esta clareza, não importa qual a estratégia escolhida, porque o impacto será menos significativo.
Vamos supor que u(a) professor(a) deseje implementar a chamada aprendizagem entre pares, utilizando um simples “vire-se e compartilhe” com seu(sua) colega. Esta é uma ótima estratégia para ajudar os estudantes a elaborar sua aprendizagem através da fala e do feedback. Mas os estudantes irão “virar e compartilhar” o quê? Qual será o foco da pergunta que devem discutir? Se o foco não ajuda a aprofundar a aprendizagem em direção a um objetivo claro, então pode acontecer que os estudantes gastem tempo falando sobre o que não é de fato relevante, e o que não ajuda o cérebro a processar conceitos mais complexos.
É por isso que devemos sempre nos perguntar qual é o resultado de aprendizagem que esperamos dos estudantes, e ter uma resposta bem clara sobre isso, Objetivo claro não é uma lista de exercícios e não é a capacidade de resolver problemas ou escrever respostas completas. Objetivo claro envolve uma aprendizagem, que é um verbo de ação sobre um conteúdo essencial para atingir um propósito significativo para o estudante. O(a) educador(a) deve ter clareza sobre isso para fazer uma planejamento didático estratégico que tira o melhor proveito da estratégia escolhida.
Não é a estratégia que faz toda a diferença. O que faz diferença é selecionar o que é essencial aprender e definir um resultado de aprendizagem claro neste contexto.
3) Qual é o MAPA para o sucesso do estudante?
A descrição de uma estratégias de ensino pode parecer ótima no papel, mas e na prática? Quando escolhemos uma estratégia estamos pensando em como ela se encaixa no processo de aprendizagem? Ou estamos confiando que a utilização de uma estratégia já transforma a aprendizagem? Pode ser, mas depende de uma série de fatores que venho comentando esta semana.
Vamos ver o exemplo de gamificação, que tem se tornado popular como forma de favorecer um maior engajamento dos estudantes. Precisamos nos perguntar: qual etapa do processo de aprendizagem pode se beneficiar de uma gamificação? Veja que o importante aqui é ter bem claro o mapa que vai levar ao sucesso da aprendizagem. E o que é este mapa? É o nosso planejamento didático estratégico, que foca no resultado que desejamos e pensa nos passos para chegar lá. Por isso não basta gamificar por gamificar, se o propósito desta gamificação é apenas memorizar conteúdo. Este é um resultado em um nível muito baixo de desafio cognitivo para tanto esforço de planejamento. Mas e os outros níveis de maior nível de desafio, como aplicação e análise? Por esse motivo devemos sempre nos perguntar quando e para quê vale a pena gamificar uma etapa no processo de aprender.
4) Como deve ser o PROCESSO de aprendizagem para o estudante?
Como imaginamos o processo de aprendizagem dos estudantes? Estamos pensando em estudantes ocupados ou estamos pensando em cérebro engajado? Estamos pensando no que o cérebro dos estudantes precisa para reorganizar o seu conhecimento prévio e dar sentido a novas informações? Ou estamos pensando em atividades bacanas?
O processo de aprender exige “ação” no cérebro dos estudantes e não apenas “ação” no plano físico. Esta é a verdadeira medida de eficácia de uma metodologia ativa e suas estratégias de ensino-aprendizagem. Mas como saber se o cérebro está engajado? Sabemos porque planejamento estrategicamente para isso. Existem três considerações a se fazer para escolher uma estratégia que apoia um processo de aprender:
- O estudante é chamado a BUSCAR CONTEÚDO e dar SIGNIFICADO a esse conteúdo? Este é o caso de estratégias como aprendizagem colaborativa, aprendizagem por projetos e pesquisa/avaliação de informação digital.
- O estudante é chamado a PENSAR? Para isso existem inúmeras rotinas de pensamento, que incluem mapas mentais, por exemplo.
- O estudante é chamado a ter mais AUTONOMIA no seu processo de aprender? Aqui se incluem estratégias de aprendizagem híbrida e portfólios digitais.
5) Como usar a AVALIAÇÃO para o estudante aprender melhor?
Como você e o(a) próprio(a) estudante sabe se aprendeu e o que fazer a seguir? Evidências de aprendizagem são uma parte fundamental do ensino e da própria aprendizagem também. Todo o planejamento didático estratégico deve começar com o resultado de aprendizagem que desejamos para os estudantes e quais evidências de aprendizagem queremos ver. Por esse motivo, a escolha de estratégias de ensino deve permitir aos estudantes demonstrar a aprendizagem de forma visível e mensurável, tanto no final da unidade de estudos como durante o processo de aprender.
Inúmeras estratégias podem ser utilizadas para coletar evidências durante a aprendizagem, ou seja, no processo formativo: cartões de saída, questionários, mapas mentais, gráficos colaborativos, feedback entre pares, etc. Uma estratégia de ensino também pode e deve ser uma estratégia para coletar evidências de aprendizagem. O(a) professor(a) ganha com isso por entender melhor a aprendizagem que resultou do ensino, e assim ajustar suas ações. O(a) estudante ganha com isso porque entende onde está no caminho em direção ao objetivo de aprendizagem final, e entende melhor quais devem ser os seus próximos passos.
Mas tudo isso precisa acontecer com uma clareza no objetivo de aprendizagem e uma clareza nos critérios de sucesso para atingir o objetivo. Clareza para o(a) professor(a) e clareza de comunicação com os estudantes.
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