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OLÁ! EU SOU A SILVANA

Consultoria, Mentoria e Capacitação de Professores

Trago uma experiência de mais de 20 anos formando professores para melhoria da aprendizagem através de metodologias ativas com base em pesquisas. 

PhD e Mestre em Educação pelo King’s College, Universidade de Londres, trabalhei com integração de tecnologia no ensino e coaching de ensino-aprendizagem.

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ILUSÃO de aprendizagem: COMO evitar armadilhas no ENSINO com base na neurociência

Para além de todos os grandes pensadores do ensino que pavimentaram as metodologias ativas (como Piaget, Vygotsky, Dewey, Paulo Freire), existe hoje a neurociência. Graças a ela, conseguimos compreender com muito mais precisão o que significa uma aprendizagem bem-sucedida. Se os grandes pensadores deram a direção, hoje a neurociência nos ajuda a pavimentar os detalhes de COMO ensinar melhor e o O QUE significa aprender “de verdade”. Além da neurociência, também existem pesquisas educacionais que hoje focam na aplicação prática de estratégias de ensino. Isso significa que, atualmente, não contamos apenas com a teoria, mas também com a prática e a comprovação científica daquilo que realmente funciona.

Neste artigo vou utilizar a neurociência para explicar porque certas práticas de ensino são fundamentais para que a aprendizagem seja significativa e duradoura, em oposição à práticas tradicionais que tendem a causar uma “ilusão de aprendizagem” (ou ilusão de competência). O termo “illusion of mastery” é utilizado em neurociência para descrever uma sensação de “familiaridade” com o conteúdo através de inúmeras releituras, por exemplo, e também momentos “aha!” de compreensão sem o necessário “agora faça você mesmo”. 

No mundo cada vez mais complexo em que vivemos, é fundamental que a aprendizagem seja mais eficaz e duradoura para que possamos enfrentar os desafios da sociedade atual — sejam eles econômicos, ambientais, políticos ou tecnológicos. O ensino tradicional não se importava muito se a aprendizagem era uma “decoreba” ou não, porque os mais espertos se viravam e se davam bem de alguma forma. Hoje em dia temos mais consciência da importância de uma aprendizagem bem-sucedida para o maior número de indivíduos possível. E cada nova geração traz desafios ainda maiores para garantir uma aprendizagem verdadeiramente significativa — aquela que se conecta aos propósitos do indivíduo e dá sentido à imensidão de informações disponíveis.


Situações de ensino que favorecem a ilusão de aprendizagem


Algumas situações típicas de ensino-aprendizagem ilustram a “ilusão de aprendizagem”. Estas situações mostram o que precisa ser EVITADO. A seguir iremos ver como evitar tais armadilhas com estratégias mais eficazes para o cérebro.


Os estudantes “parecem” entender …

Aulas expositivas são necessárias, mas precisam ser reduzidas e planejadas com muita intencionalidade. Isso porque aulas expositivas podem levar a uma sentimento de flow para o(a) professor(a) e a impressão de que os estudantes estão aprendendo “tudo o que precisam”. É claro que uma compreensão do conteúdo da aula é uma peça fundamental da aprendizagem “de verdade”, mas é apenas o começo de um processo. 

O flow no ensino pode ser definido como um estado de imersão e harmonia no qual o professor sente que a aula fluiu de maneira natural, engajadora e eficaz. É a sensação de que os estudantes estavam atentos, compreenderam o conteúdo e participaram ativamente com perguntas e comentários. Mas, logo depois da aula, os estudantes conseguem apontar pelo menos três pontos importantes do que foi aprendido? Os estudantes conseguem explicar o que foi aprendido para um colega? E depois de uma semana, um mês, ou no ano seguinte: os conceitos principais parecem ter evaporado e precisam ser relembrados em muitos detalhes?


Os conteúdos seguem um após o outro…

Apesar de todo o movimento em prol das metodologias ativas, ainda enfrentamos o desafio do excesso de conteúdo, que limita o tempo disponível para atividades “mão na massa” e práticas mais aprofundadas. E esse conteúdo só continua crescendo — a história segue seu curso, as descobertas científicas e tecnológicas avançam, os novos desafios sociais se acumulam e as questões ambientais se tornam cada vez mais urgentes. Na dúvida, seguimos ensinando conteúdos tradicionais, somados às competências socioemocionais, às questões raciais, à consciência ambiental, à educação financeira… e a lista continua. A cada novo desafio da humanidade, mais um pouco de conteúdo.

É claro que todo esse conhecimento, tradicional ou atual, é fundamental. Mas se continuamos a ensinar conteúdo em cima de conteúdo, como os estudantes irão desenvolver a compreensão de conceitos essenciais? Como os estudantes poderão conectar de forma significativa tantas informações em um universo de conteúdos cada vez mais extenso? Será que cabe ao professor oferecer as conclusões e conexões “de bandeja” para ganhar tempo? E o cérebro dos estudantes, como fica nessa situação? Afinal, é o cérebro do próprio indivíduo que, em última instância, deve construir essas conexões de forma ativa para que o aprendizado seja realmente eficaz e duradouro.


As atividades “parecem ativas” mas …

A boa e velha tática de “estudar na véspera” ainda prevalece em muitas situações em que não há tempo ou planejamento suficiente para aprendizagem ativa e feedback. Essa realidade é uma consequência do excesso de tempo para aulas expositivas, sobrecarga de conteúdo e um processo de aprendizagem acelerado.

Mesmo quando afirmamos estar implementando metodologias ativas que permitem aos estudantes colocar a “mão na massa”, precisamos nos perguntar se a “aprendizagem no cérebro” destes estudantes está sendo realmente ativa. Uma coisa é a proposta de ensino, e outra coisa é a aprendizagem do estudante.

Voltando à tática de “estudar na véspera”, sabemos que esta é uma resposta à procrastinação e também um “salva-vidas” de última hora para tirar nota ou alcançar um resultado imediato. Por isso é muito utilizada quando o(a) estudante não teve todo o apoio necessário durante o “processo” de aprendizagem. “Estudar na véspera” parece uma salvação ou até mesmo uma “remediação” para a aprendizagem. Mas na verdade, esta tática vai contra a maneira como a memória se forma no cérebro: ou seja, aos poucos. E por isso gera uma falsa sensação de aprendizagem, que desaparece rapidamente porque não foi gravada com força suficiente na memória de longo prazo.


Incorporando a neurociência para tornar um ensino mais eficaz e significativo


Então como podemos incorporar estratégias de ensino eficazes para permitir uma aprendizagem significativa e duradoura, de acordo com os achados da neurociência. A seguir são discutidas três estratégias que fazem ajudam a evitar situações de “ilusão de aprendizagem”.


OPORTUNIDADES para Active Recall

active recall

Recall significa simplesmente “lembrar”, ou recuperar da memória. Mas veja que estamos falando de active recall, ou seja, uma “recordação ativa”. No active recall, o(a) estudante precisa fazer um esforço de recuperação da memória, sem nenhuma dica, apoio ou consulta. É um esforço de recordação ativo e “a seco”, ou seja, sem bengalas.

E porque essa estratégia é importante para a aprendizagem? Esta estratégia é o antídoto ideal para combater a ilusão de aprendizagem em aulas expositivas ou atividades guiadas, porque a memória se fortalece justamente através do esforço para “lembrar”. A dificuldade de lembrar é natural, mas o esforço para lembrar vai reforçando os “caminhos neurais” que formam uma aprendizagem. O esforço localiza informações e ressignifica o contexto e as conexões com outras informações. 

Ouvir e “entender” uma informação apenas forma uma conexão tênue entre as informações e entre as informações e o conhecimento prévio. Pode “parecer” que faz muito sentido no momento em que escutamos. Mas e no momento em que nos esforçamos para lembrar o que aprendemos? Daí os “buracos” de compreensão aparecem e as dúvidas surgem, o que é muito bom para ressignificar e aprender de forma mais eficaz. E esse active recall deve ser feito logo após a aprendizagem e várias vezes depois, ao longo do tempo, conforme novas informações são adicionadas. 

Mas como fazer isso no ensino? O active recall não é um trabalho do estudante, nos seu horário de estudos? Sim e não. É muito simples e muito importante oferecer oportunidades para que os estudantes façam active recall durante as aulas e em “atividades planejadas”, em aula ou fora da aula. Aqui vão três sugestões:

  • Utilizar os últimos momentos de cada aula para que os estudantes relembrem o que aprenderam e compartilhem com um colega. Esse recall pode se basear em uma pergunta aberta, que apenas delimita o assunto, ou pode ser um recall de um a três pontos importantes de aprendizagem do dia. 
  • Pedir para os estudantes criarem um “diário de aprendizagem”, onde relembram e escrevem o que aprenderam, o que falta aprender, quais as suas dúvidas. Esse diário pode ser preenchido antes de começar a aula, relembrando o que foi aprendido na aula anterior, ou pode ser escrito fora da sala de aula.
  • Fazer um pequeno teste de memória sobre um conteúdo relevante, logo após a aula. O teste pode ser múltipla escolha utilizando um aplicativo online que mostra o resultado de erros e acertos de toda a classe na tela. Esse teste pode virar um pequeno jogo, e cada estudante testa a si mesmo(a) comparando sua memória com a resposta correta.

Para cada atividade de active recall é também importante fazer uma pequena atividade de conexão com as novas informações a serem apresentadas . Essa atividade pode ser uma pequena reflexão no diário, um compartilhamento com o colega, ou uma discussão presencial ou online. 

E assim os caminhos neurais vão se formando de forma significativa, eficaz e duradoura. E a aprendizagem “de verdade” acontece. Além disso os estudantes aprendem o valor do active recall e podem ser chamados a incorporar esta estratégia nos seus estudos.


PLANEJAMENTO intencional para facilitar o “Chunking”

Chunking é a forma como o cérebro consegue “quebrar” a aprendizagem em pequenas partes, permitindo que cada uma seja compreendida e praticada antes de ser conectada a outras em estruturas mais complexas. Se o estudante forma um chunk através de memorização mecânica, sem compreensão e prática, não conseguirá fazer as conexões necessárias – o chunk fica “sem forma”, ou seja, sem as arestas que permitem conectar diferentes partes como em um quebra-cabeças.

Esta estratégia de chunking nos ajuda a combater o excesso de conteúdo, porque nos força a refletir cuidadosamente sobre os conceitos e ideias fundamentais que realmente desejamos ensinar. Só depois dessa reflexão é que podemos elaborar um planejamento didático intencional, considerando os chunks que ajudarão os estudantes a compreender e aprender um conteúdo complexo de maneira mais eficaz. Nesse processo, veremos que certos conteúdos serão apenas auxiliares, enquanto outros serão prioritários para desenvolver as habilidades e competências essenciais em nosso estudantes. 

Isso significa fazer um planejamento considerando o “processo” de aprendizagem em direção a um objetivo claro, e não uma série de tópicos e subtópicos. O planejamento deve focar em grupos de atividades que ajudam os estudantes a desenvolver um chunk de cada vez, para depois fazer conexões entre os diferentes chunks. Um exemplo mais fácil de entender é o ensino de um esporte como futebol: um chunk pode ser a prática de um movimento básico como chutar; outro chunk pode ser a compreensão das regras do jogo, outro chunk pode ser a prática de passagem de bola. Será necessário aprender diferentes chunks relacionados a movimentos, passagem de bola e regras, para ir juntando cada chunk na competência final que é saber jogar futebol com maestria.

Podemos fazer uma relação entre o conceito de chunking e os níveis de desafio cognitivo da Taxonomia de Bloom. Para entender uma forma de fazer chunking no planejamento didático leia o meu artigo “APRENDIZAGEM ATIVA precisa de uma ESCADA DE DESAFIOS”. Acesse no LINK: https://tinyurl.com/2ss983e5


AVALIAÇÕES FORMATIVAS para evitar procrastinação e fortalecer a MEMÓRIA DE LONGO PRAZO

A aprendizagem “de verdade” ocorre quando gravamos na memória não apenas a compreensão aprofundada dos conteúdos, mas também a capacidade de aplicá-los de maneira significativa, transformando o conhecimento em ação. Para isso precisamos realizar diversas gravações na memória de longo prazo, para que as vias neurais se fortaleçam. 

As ferramentas mais poderosas do ensino para consolidar esse aprendizado na memória são as avaliações formativas e o feedback, que orientam e apoiam o estudante ao longo do processo de aprendizagem, garantindo um caminho claro até o objetivo final. Vale lembrar que as avaliações formativas são pequenas atividades que promovem a aprendizagem ativa e geram evidências visíveis e mensuráveis do progresso do estudante, permitindo ajustes e intervenções eficazes.

Quando o planejamento de ensino inclui pausas estratégicas para reflexão e avaliação dos chunks de aprendizagem ao longo do caminho, a procrastinação tende a diminuir. Isso acontece porque os desafios são enfrentados de forma gradual, com o suporte do feedback — seja do professor, dos colegas ou por meio da autoavaliação —, tornando o processo de aprendizagem mais estruturado e motivador. Ao chegar no momento da avaliação somativa ( prova final), o estudante já possui vários chunks bem gravados na memória, que se encaixam de forma significativa. Assim não é preciso estudar “tudo”de véspera. 

A Taxonomia de Bloom é uma ferramenta valiosa para planejar avaliações formativas que auxiliam no desenvolvimento progressivo das habilidades cognitivas, garantindo que os estudantes avancem de maneira estruturada até o objetivo de aprendizagem final. Para saber mais leia o meu artigo “APRENDIZAGEM ATIVA precisa de uma ESCADA DE DESAFIOS”. Acesse no LINK: https://tinyurl.com/2ss983e5


Se você quiser aprender mais …

Se o seu maior desafio é priorizar o excesso de conteúdo, eu convido a dar uma olhada no meu curso online “Como Escolher Conteúdo Para Engajar o Cérebro em Aprendizagem Duradoura”. Este curso é baseado no trabalho de Wiggins & McTighe sobre “planejamento reverso” com foco na identificação do que é essencial aprender.

Acesse a página explicativa do curso no LINK: https://silvanascarsoed.com/curso/aprendizagem-ativa-bem-sucedida-com-conteudo-priorizado/

Se você deseja aprender passo a passo como definir com clareza os níveis de desafio cognitivo de um processo de aprendizagem até o objetivo final, utilizando a Taxonomia de Bloom, eu convido a dar uma olhada no meu livro “Clareza do Professor: [Re]Considere sua identidade de educador(a) para uma aprendizagem ativa eficaz”. 

Acesse a página explicativa do livro no LINK: https://silvanascarsoed.com/publicacoes/livro-clareza-do-professor/


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