Habilidades de aprendizagem no sec XXI
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OLÁ! EU SOU A SILVANA

Consultoria, Mentoria e Capacitação de Professores

Trago uma experiência de mais de 20 anos formando professores para melhoria da aprendizagem através de metodologias ativas com base em pesquisas. 

PhD e Mestre em Educação pelo King’s College, Universidade de Londres, trabalhei com integração de tecnologia no ensino e coaching de ensino-aprendizagem.

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Os ESTUDANTES-APRENDIZES de hoje estão atrasados no tempo? Habilidades para o séc XXI e além.

Este artigo é sobre o perfil de aprendiz que devemos esperar nos dias de hoje, seja este aprendiz o seu estudante jovem ou adulto, seja este aprendiz você mesmo(a); seja um aprendiz no ensino formal, no EAD, ou mesmo no ambiente corporativo. Apesar de muitos de nós ainda termos passado por experiências tradicionais de aprendizagem na escola, e até muitos de nossos(as) filhos(as) também terem passado por experiências tradicionais de aprendizagem, o nosso tempo pede outra postura diante do aprender. 

Este artigo é de certa forma uma provocação e uma pergunta para os(as) meus queridos(as) leitores(as), e ao final vou apreciar os seus comentários. Em um cenário onde cresce a oferta de ensino formal e informal, principalmente via EAD, e também cresce a evasão, eu me pergunto o que falta neste aprendiz. A minha impressão é que o(a) aprendiz quer ser ensinado(a) sem talvez ter a preocupação ou noção do que significa aprender. No mundo de hoje, cresce o conhecimento e a responsabilidade de quem cria cursos e ensina para desenhar boas experiências de aprendizagem e acompanhar o processo de seus estudantes. Mas ao mesmo tempo cresce a demanda por autonomia e autorregulação do aprendiz. Mas quem ensina estes aprendizes a ter este perfil? Ou quem alerta sobre o que é necessário ser desenvolvido como aprendiz? 

Neste artigo vou tentar colocar algumas questões que eu acho fundamentais na aprendizagem e que devem ser ensinadas e/ou servir de conscientização, dependendo da idade e do contexto do ensino. Me conte o que você acha e qual a sua experiência aqui nos comentários! 

O(a) aprendiz deve ser metacognitivo(a)

A ciência da aprendizagem tem gerado muito conhecimento prático sobre como melhorar a aprendizagem, mas muito deste conhecimento não chega aos estudantes, que são os seus beneficiários(as) diretos.  Por isso é importante ensinar e conscientizar os estudantes, e a nós mesmos(as) como aprendizes, sobre algumas questões importantes. A primeira delas é a metacognição, porque é a base da autonomia e autorregulação. Ser metacognitivo significa pensar sobre o próprio pensamento, ou em outras palavras, fazer perguntas sobre o próprio processo de aprendizagem e os próprios interesses ou objetivos. 

Algumas perguntas metacognitivas são fundamentais. Uma delas envolve perguntar “o que eu já sei a respeito disso?”. Com esta pergunta conseguimos trazer à tona o nosso conhecimento prévio para então fazer conexões com as novas informações ou transformar aquilo que pensávamos ser o correto em conhecimento mais eficaz.  Outra pergunta fundamental envolve pensar “porque isso é importante para mim?”.  Esta pergunta favorece uma atitude positiva diante da aprendizagem porque busca significados mesmo quando estes não são inicialmente aparentes. A pressa que o mundo de hoje traz e a ansiedade em consumir informações acaba inibindo estes momentos de pausa para se fazer estes tipos de perguntas metacognitivas. Com o tempo, perguntas deste tipo se tornam um hábito e uma atitude diante do conhecimento. 

Outra pergunta de extrema importância envolve pensar se “eu estou entendendo isso?”. A própria ciência cognitiva nos mostra que somos mau juízes da nossa aprendizagem, ou seja, temos a tendência de achar que algo que parece fácil e “gostoso” está resultando em aprendizagem. Mas na verdade aprendizagem eficaz acontece com esforço cognitivo, e este esforço implica na pergunta honesta “eu estou entendendo isso?”. Esta primeira pergunta resulta em inúmeras outras, questionando por exemplo a coerência, as fontes, a autoridade, ou os detalhes que podem estar faltando para a compreensão. Perguntar se “eu estou entendendo isso?” também pode resultar em uma autocrítica e uma pausa maior para revisar o que se aprendeu até o momento e reconsiderar como todas as partes se encaixam. 

Outro exemplo envolve perguntar “qual é a melhor estratégia para aprender?”. Esta pergunta desenvolve a autonomia e a responsabilidade pessoal sobre o processo de aprendizagem. A resposta a esta pergunta pode ser tão simples quanto ler ou ouvir mais de uma vez e fazer anotações, rever as anotações e criar um resumo com comentários sobre aplicação prática. Esta pergunta metacognitiva nos tira da postura tradicional de estudante que espera receber um conhecimento “pronto”, e nos tira da postura tradicional de que “estudar” significa rever aquilo que foi transmitido sem participar ativamente do processo de “criar” conhecimento pessoal. A “estratégia” neste caso é “fazer alguma coisa” com as informações recebidas. Se o ensino já oferece experiências de aprendizagem prática, melhor ainda, mas é necessário de fato participar cognitivamente destas experiências. Principalmente se o ensino for EAD, o(a) aprendiz precisa fazer a sua parte com qualidade e honestidade pessoal.

O(a) aprendiz deve saber qual é o seu objetivo de aprendizagem

Pense nas vezes em que você aprendeu de forma autônoma. Com certeza foi por que você tinha um objetivo em mente. Mesmo que esse objetivo fosse se desvendando aos poucos através de pequenos objetivos ao longo do tempo. Você também deve ter buscado visualizar o resultado desse objetivo de alguma forma, procurando modelos, exemplos, falando com pessoas que chegaram no seu objetivo almejado. No ensino formal não é diferente. A autonomia do aluno(a) não acontece no vácuo, mas dentro de uma CLAREZA de objetivos que passam também pelo interesse do estudante e sua conexão com o mundo real.

No mundo de hoje, e principalmente diante da oferta de cursos EAD, a autonomia é cada vez mais fundamental para a aprendizagem. Mas autonomia não significa ter liberdade para ficarmos perdidos, a cada momento interessados em algo diferente, ao sabor dos estímulos do momento. A autonomia precisa servir para que possamos ajustar o nosso processo de aprendizagem às nossas necessidades e interesses, e para que possamos ter algum tipo de persistência produtiva. Neste sentido é muito importante também que o ensino tenha objetivos de aprendizagem claros, para ancorar esta autonomia individual. 

Vamos ver um exemplo simples do ensino formal, em uma situação ideal, para entender esta habilidade importante para o(a) aprendiz do nosso tempo (e do futuro). Digamos que o objetivo de aprendizagem em uma unidade de estudo é definido como “ser capaz de escrever um texto argumentativo com estrutura lógica baseada em evidências convincentes”. A cada tentativa de escrever um texto argumentativo, o estudante recebe feedback e pensa qual deve ser o seu próximo passo na aprendizagem. Este próximo passo definido pelo estudante representa um “mini” objetivo de aprendizagem na direção do objetivo final do curso. Por exemplo:  “eu preciso ser capaz de me organizar para conferir a fonte e autoridade das evidências antes de colocar no texto”. 

Portanto a autonomia de que tanto falamos nas metodologias ativas, se orienta pelo objetivo de aprendizagem do ensino. Esta autonomia permite produzir os próprios “mini” objetivos ou passos em direção ao objetivo final, e porque não, permite adaptar o objetivo do ensino aos interesses pessoais: “eu quero ser capaz de m texto argumentativo com estrutura lógica baseada em evidências convincentes, para poder expressar minhas ideias e criar impacto no trabalho”. 

Pensar nos próprios objetivos de aprendizagem como pequenos ou grandes passos requer prática e reflexão sobre o para quê aprender. Um(a) aprendiz em uma empresa, uma pessoa autônoma, ou um estudante do ensino formal ou livre,  precisa ser capaz de pensar: “o que eu preciso aprender para ser capaz de resolver ou fazer X”. É só a partir destes objetivos que conseguimos iniciar uma aprendizagem bem-sucedida. 

O(a) aprendiz deve se autorregular no processo de aprendizagem

A autorregulação é fundamental porque a aprendizagem é mais eficaz e mais significativa quando o(a) próprio(a) aprendiz se engaja no processo de aprender. Um(a) professor(a) tem papel fundamental nas metodologias ativas, mas quem deve fazer boas perguntas são os estudantes, quem deve aplicar feedback são estudantes, quem deve saber tirar proveito da aprendizagem em comunidade são os estudantes, e quem deve ter um sentimento de “autoeficácia” são os estudantes. O mesmo vale para a aprendizagem informal ou percursos pessoais de aprendizagem. 

A autorregulação da aprendizagem envolve muitos aspectos, incluindo a metacognição e o objetivo claro como guia do processo individual. Mas vou falar de outros aspectos da autorregulação que considero primordiais. O primeiro deles é a “autoeficácia”, que significa uma crença positiva na própria capacidade de aprender, e foi apontada na pesquisa de John Hattie como um dos maiores impactos na aprendizagem. Muitos podem ser os empecilhos para alguém aprender e sentir que tem capacidade de aprender. Mas se  existe uma única “estratégia” para melhorar o sentimento de autoeficácia é pensar sempre: “eu não aprendi… ainda”. Neste caso é importante empregar um “esforço produtivo” para aprender o que “ainda” não se aprendeu, ou seja, aprender estratégias eficazes que incluem o que está descrito neste artigo. 

Outro aspecto da autorregulação da própria aprendizagem é a capacidade de fazer boas perguntas, ou perguntas relevantes para o tema em questão. Para isso muitas vezes é preciso ler bastante e/ou ouvir várias fontes para conseguir elaborar perguntas que resultam em esclarecimento e aprofundamento verdadeiros. É preciso aprender a perguntar com curiosidade genuína e com um certo ceticismo crítico. Fazer perguntas esperando uma resposta com o viés que desejamos não se configura em uma boa pergunta. Na era do ChatGPT, saber fazer boas perguntas tem ainda mais valor, porque a IA se orienta pelas nossas perguntas e propostas. Mas cuidado aqui: conhecimento é uma construção social que envolve autoridade e viés. Por isso é fundamental conhecer nossas fontes.

Saber utilizar um feedback construtivo também é fundamental para a autorregulação, já que o feedback é o pivô da mudança, da adaptação e da correção de curso. Saber pedir feedback é ainda melhor, porque o(a) aprendiz consegue focar o que deseja melhorar naquele momento. A pesquisa de John Hattie também indicou o feedback como um dos maiores impactos na aprendizagem. Porém, o feedback que de fato contribui para aa aprendizagem é específico e útil, ou seja, pode ser utilizado para melhorar. Comentários relativos à pessoa ou com julgamento de valor não contribuem com a aprendizagem, e precisamos saber disso.

E finalmente vou mencionar a aprendizagem colaborativa, ou a capacidade de contribuir para a aprendizagem de outras pessoas e aprender com outras pessoas. A troca em comunidade é muito importante, tanto no sentido de oferecer conhecimento quanto no sentido de receber conhecimento ou feedback. É neste processo social que aprimoramos nossas ideias e que temos ideias novas, desde que a comunidade seja relevante para o objetivo de aprendizagem de cada um. A autorregulação se alimenta destas trocas, fazendo com que tenhamos mais motivação e melhor direcionamento do nosso processo de aprender.

O aprendiz deve utilizar tecnologia de forma crítica e eficaz

Saber utilizar a tecnologia a favor de sua aprendizagem é uma competência fundamental que inclui inúmeras habilidades, entre elas explorar meios digitais sem medo de errar e ao mesmo tempo ter um pensamento crítico para avaliar sua utilidade. O pensamento crítico tem sido constantemente colocado como parte das competências para o século XXI e continua sendo uma qualidade humana fundamental, principalmente na era da Inteligência Artificial. Se estamos considerando o uso de tecnologia para a aprendizagem, devemos utilizá-la para desenvolver o pensamento crítico e também utilizar o pensamento crítico para avaliar os seus reais benefícios.

Uma forma bastante prática de avaliar uma dada tecnologia em termos do seu impacto na aprendizagem é através da Taxonomia de Bloom. Na verdade não avaliamos a tecnologia em si, mas sim a UTILIZAÇÃO que fazemos desta tecnologia. Para quem não conhece, a Taxonomia de Bloom define níveis de desafio cognitivo que envolvem aprendizagem menos ou mais aprofundada. No topo da pirâmide de Bloom temos o nível de “Criação”, para atividades que envolvem compilar informações de formas diferentes ou propor soluções alternativas. A “criação” representa o maior nível de desafio cognitivo em uma atividade. Já na base da pirâmide de Bloom, com menor nível de desafio, temos atividades que envolvem apenas “Memorização”. 

Vamos pensar no exemplo do momento com a utilização do ChatGPT. Um(a) aprendiz pode utilizar o ChatGPT como fonte (inicial) de pesquisa, ou para responder uma dúvida. A leitura da resposta do ChatGPT envolve o consumo de informação e pode apenas implicar em memorização ou pode subir um nível na pirâmide de Bloom melhorando a “compreensão” do assunto. Mas vamos pensar em outra atividade possível com o ChatGPT que chega ao nível de “Análise”. Podemos fazer a mesma pergunta ao ChatGPT mas com o intuito de examinar a resposta em detalhes buscando evidências em outras fontes. Podemos até perguntar ao ChatGPT quais são as evidências, mas para desafiarmos o NOSSO cérebro, precisamos nos envolver em alguma forma de ANÁLISE. Este seria um melhor uso do ChatGPT para gerar APRENDIZAGEM no NOSSO CÉREBRO.

O “Modelo Mangana” da figura abaixo também é uma forma interessante de avaliar o uso da tecnologia para a aprendizagem. No exemplo de uso do ChatGPT para “compreensão” ou “memorização”, estamos no nível chamado “Transladar”, consumindo informação ou automatizando a atividade de pesquisa. O nível se chama “transladar” porque transfere atividades de uma mídia a outra, sem causar transformação. Já no exemplo da análise de uma resposta do ChatGPT, para de fato “Transformar” segundo Mangana, precisaríamos produzir conhecimento e contribuir para o coletivo. O funcionário de uma empresa pode utilizar o ChatGPT para auxiliar em uma análise e a partir do conhecimento produzido pelo próprio funcionário a partir desta atividade, contribuir para o conhecimento do coletivo de sua empresa. Um indivíduo que deseja aprender certo assunto para se desenvolver em sua carreira, pode utilizar a análise a partir do ChatGPT para produzir conhecimento que é compartilhado nas mídias sociais a fim de desenvolver uma rede de aprendizagem e de negócios. Um estudante do ensino formal pode desenvolver uma análise a partir do ChatGPT para produzir conhecimento para ser compartilhado e discutido em sala de aula.

O PROCESSO COGNITIVO envolvido na produção PRÓPRIA de conhecimento, com o apoio de tecnologia, não apenas transforma o CÉREBRO do(a) aprendiz mas tem o grande potencial de transformar a sua comunidade. A Inteligência Artificial irá com certeza auxiliar enormemente a humanidade e muitos pesquisadores já estão pensando em como a inteligência artificial poderá complementar a inteligência humana. Mas vamos lembrar que a inteligência humana envolve sentimentos e experiências de vida e por isso quando pensamos na nossa aprendizagem, precisamos prezar pela nossa inteligência e alimentá-la. 

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